Desde que mergulhei nesse universo PTC, aprendi
a ver e viver a vida de forma diferente conheci pessoas maravilhosas, mães e
famílias inteiras que travam verdadeira batalha em prol de seus filhos. Adicionei quando eu ainda estava gestante um perfil de uma mãe, naquela ocasião seu filho era apenas uma
criança, normal como qualquer outra. O tempo passou e no final do ano passado
essa mãe me procurou para desabafar e pedir oração, tinha recentemente
descoberto que seu filho tinha Diabetes e precisaria fazer uso diário de
insulina, de repente, usar órtese diariamente não era algo tão incomum, pois
essa mãe teria que diariamente aplicar injeções em seu filho.
Mês passado ela compartilhou mais uma parte da
luta que vem travando, em suas palavras encontrei um pouco do que vivo
diariamente e com a permissão dela compartilho com vocês para dizer “não
estamos sozinhas, não é fácil, mas é possível sobreviver e aprender a viver”.
“Compartilhando: “Bendize, ó minha alma, ao
Senhor, e não te esqueças de nenhum de seus benefícios.” Salmos 103:2
- Noite do dia 26 de setembro de 2015, depois
das visitas dos familiares mais próximos, me encontrei ali mais uma noite a sós
com meu pequeno. Já estava acordada há mais de 24 horas... Mente e corpo
exaustos... Mas, meu príncipe já estava fora de perigo! Porém, bastante
assustado... Não queria dormir no bercinho... Pediu colo e sentada numa cadeira
sem estofamento ao lado do berço, o acalentei em meus braços até que ele
dormisse... Poucos minutos depois seu corpo tremia, parecia assustado com algo...
Falei em seu ouvido: - A mamãe está aqui! Ele me respondeu sonolento: - Foi um
sonho ruim... Repliquei: - Vai embora sonho ruim, em nome de Jesus, deixa meu
menininho dormir! Ele sorriu e disse: - Já foi! - buscando em seguida nova
posição no meu colo já pequeno para o aninhar. Minha alma sorriu ao contemplar
sua inocência e confiança! Depois dessa cena dormiu profundamente e por horas!
Enquanto isso, com ele ainda em meu colo, busquei dar ordem aos meus
pensamentos! Apresentando à Deus minha esperança, minha fé... sem ruídos, sem
palavras, lágrimas caiam... Uma médica que tinha acabado de receber o plantão
recebia do médico que entregava o plantão o quadro clínico dos pacientes, leito
por leito... Ao descrever o quadro em que o Dudu chegou no hospital, os exames
que estavam sendo realizados de hora em hora e a medicação que vinha recebendo,
percebi que todos olhavam para nós... Mas era um momento de trabalho, não havia
espaço para se sensibilizar com aquele quadro de dor... Concluído aquele
momento, a nova médica (não me lembro o nome), passou orientações aos
enfermeiros e a equipe que havia dado início a sua jornada diária... Não muito
tempo depois, num momento de calmaria, aquela médica se aproximou de mim,
também sem palavras se ajoelhou ao nosso lado e chorou comigo... Nessa hora
externei minha dor, minha confusão mental (era um garotinho tão saudável – como
poderia estar acontecendo tudo aquilo?)... Outra profissional entrou na sala e
repreendeu a médica por estar chorando com um paciente... Exclamei a ela: Nunca
ouviu, “chorai com os que choram.”!? E ao explanar com amor minha indignação
com a frieza daquele lugar até aquele momento, o sentimento contagiou, e todos
choraram... A conversa se estendeu por uns minutos, o suficiente para me
reanimar! Sou grata a Deus por aquela médica, que no meio de um quadro de dor,
permitiu desabrochar sua humanidade, quebrando protocolos, manifestando o amor
de Deus. Sim, Deus acariciou minha alma por meio dela e mostrou que estava
comigo também ali naquele lugar! - Ainda nesta mesma noite, me deleitei com uma
mensagem recebida no celular vinda de uma irmã na fé. Partilhávamos espaços
comuns, mas nossas vidas ainda não haviam se cruzado... Até aquele momento! Ela
iniciou sua fala me informando que trabalhava na área, logo conhecia bem a
realidade em que nos encontrávamos. De pronto reforçou a soberania de Deus e o
desejo e clamor conjunto pela cura! No entanto, o tempo presente era de
provação, assim, se colocou à disposição, se oferecendo para estar comigo e me
incentivando a reagir sem medo, mas com confiança de que Deus abriria portas!
Me apresentou também uma nova realidade de medicação mais eficaz no controle da
glicemia, que daria a meu menino maior qualidade de vida. Foi por meio dela que
chegamos a uma especialista na área que nos auxiliou no processo da alta do
hospital e os primeiros dias em casa. Sou grata a Deus pela vida da irmã L.,
que se colocou como instrumento de Deus, me fazendo contemplar Seu cuidado e
amor se intensificando a cada dia por nós! E bem sei que não somos merecedores
de coisa alguma... É Sua infinita graça que nos alcança!
- Manhã do dia 25 de abril de 2016,os meninos
estavam na escola... Tinha acabado de atualizar os registros de controle da
glicemia do Dudu em arquivo de excel para levar em consulta... A contagem do
total de picadas foi inevitável, completávamos 5 meses de diagnóstico, o que
rendeu minha última postagem por aqui... Meu depoimento foi autêntico e o
retorno de amados fortaleceu meu coração... Me senti forte! Mas não o
suficiente para o que viria a seguir... Busquei as crianças na escola e mais
uma vez repetimos os procedimentos diários... Tira uniforme, lava as mãozinhas,
mede o dedinho, aplica a insulina... No almoço a correção é inevitável...
Aquele dia, ao chegar da escola, sua glicemia estava em 293mg. Sabia que o
período da lua de mel já havia terminado... De acordo com o resultado do último
exame, a insulina produzida pelo pâncreas do Dudu é praticamente zero... A meta
estabelecida pela endócrino pediatra é buscar manter sua glicemia na faixa do
150mg... o que tem sido extremamente difícil... Agora, não basta apenas
corrigir nos momentos de pico... Estávamos sendo desafiados para em breve dar
início a aplicação da insulina por contagem de carboidratos... O número de
aplicação de insulina diária havia triplicado... A “poção mágica” da mamãe já
não mais produzia o mesmo efeito emocional no meu menino... Voltou a relutar, a
chorar, a negar o tratamento... Tornando o momento da aplicação um verdadeiro
martírio para todos da família... Passou a me dizer que não era mais um
super-herói, porque tinha diabete e essa condição não combinava com a força dos
heróis... Disse a ele que estava enganado, que todo super-herói tinha algo que
o enfraquecia, algo a temer, o super-homem, por exemplo, diante da criptonita
ficava fraco, ele também tinha que administrar sua fraqueza para estar sempre
forte e cumprir sua missão... Ainda não havíamos almoçado, precisava corrigir
sua glicemia e meu menininho implorava: “- Hoje não mamãe, só hoje, por favor!”
Mas não podia ceder ao seu choro e ao seu pedido... Era para o bem dele... Com
a minha insistência, logo veio a reação que mais temia... vi revolta em seu
olhar... O papai já tinha me dito que vinha acontecendo isso com ele na hora da
janta, quando eu estava no trabalho... mas eu ainda não tinha visto. Minha alma
gritou em silêncio clamando à Deus sabedoria e forças! Desde o diagnóstico
todos me disseram que eu tinha que ser forte por ele, não chorar perto dele,
não me acovardar diante da sua resistência, era apenas fruto da luta infantil,
cena típica de criança que se recusa à obediência... Mas naquela hora eu também
não queria aplicar a insulina... Eu também não queria estar submetendo meu bem
precioso àquela situação... Não conseguia ver em sua atitude qualquer sinal de
birra... apenas o cansaço de dia após dia lidar com a mesma situação... Foi
quando Deus falou ao meu coração: Mostre a ele como se sente! Peguei meu garotinho
no colo na marra... seu corpinho lutava contra o meu, tentando desesperadamente
se libertar do que parecia ser seu opressor... Em seguida, a doce voz do
Espírito Santo dentro de mim me valeu um choro intenso e libertador... E
ficamos assim, abraçadinhos por uns 15 minutos, chorando juntos a nossa dor...
Aos poucos o soluço e o choro convulsivo foi dando espaço para a paz que excede
todo entendimento... sem palavras nosso abraço nos consolava... Enxuguei a sua
lágrima e ele a minha... Saímos do quarto de mãos dadas... Valentes guerreiros,
juntos na mesma batalha! E desde aquele dia não houve mais luta, nem mais choro
na hora da aplicação... Por vezes ele ainda faz questão de frisar que será
forte porque me ama... Ele reconheceu meus limites, já sabe que eu não sei tudo
e que meu beijinho não tem mais o mesmo poder curador de antes... Mais tarde, a
caminho do trabalho, mais uma vez me derramei aos pés do meu Deus, entregando a
Ele toda a minha dor... reclamei à falta de companhia para aquele dia... queria
desabafar, queria conforto, queria sustento urgente... Chegando ao trabalho,
enxuguei as lágrimas, engoli o choro e segui para o meu posto... Ao abrir meus
e-mails uma mensagem calou fundo o meu coração... “Queridinho da tia P, to
orando por vc. E vc já é um vencedor. Orando pela família tbm p que Deus
fortaleça a cada um.” Não conheço o rosto, a voz, a expressão e nem mesmo tenho
ideia da intensidade das lutas de quem escreveu tal recadinho... Mas senti o
amor de Deus transbordando por nós... Receber carinho para quem ofertamos
carinho e atenção é mera consequência da semeadura, mas amar quem não
conhecemos, orar, buscar, parar para transmitir uma mensagem para quem nunca
vimos, só pode ser fruto do amor de Deus. Só quem já teve o privilégio de se
permitir e se sentir amado, pode avaliar o que estou falando... Ser alvo do
amor genuíno e gratuito, não pelo que somos ou fazemos, mas simplesmente porque
escolheram nos amar... Sou grata a Deus pela vida da “tia P” que me abraçou com
suas palavras naquela tarde... e porque mesmo sem mais notícias da minha parte
continuou mandando mensagens como se tivesse intimidade e convivência conosco
há muito tempo... Esses foram alguns dos vários momentos dignos de serem
compartilhados... Momentos em que me senti fortalecida em Cristor Jesus,
momentos em que meu Espírito dançou de alegria na presença do Senhor ao
constatar seu grande amor e abundante graça em nossas vidas. Tenho sim, ainda
muitos outros dias, muitas outras circunstâncias à partilhar..., mas claro, por
motivo óbvio, ficarão para um outro dia! Sou grata a Deus por cada um que
demonstra interesse pela nossa rotina e nos sustenta com palavras de carinho e
oração, parando para ler minhas longas postagens, fruto da minha total
incapacidade de sintetizar sentimentos tão complexos... (rsrs) Mas já aviso,
até a próxima!”
Espero que sintam-se abraçados e não mais sozinhos...
Todos travamos nossas batalhas, há momentos em que a
criança não aceita a órtese e precisamos contar mais histórias, enfeitar com
cadarços coloridos, inventar músicas que combinem com botinhas e continuar a
colocar a órtese, seja com sorrisos, ou com protestos infantis...
Força SEMPRE!!!!
Ps. Orem pelo Dudu, Deus sabe quem é e conhece seus
pais... para que eles continuem firmes e confiantes, o milagre de Deus vai além
do que pedimos ou podemos imaginar, que o milagre de hoje seja da força para
continuar na guerra!
São esses pezinhos que fazem tudo valer a pena! Um pouco marcados pelo uso da órtese, marcas que nos tornam fortes!
Pronto para dormir, brincando de desenhar e com a amiguinha órtese nos pés.... amo muito!
Encontro com uma parte da nossa família PTC do Mato Grosso...,foi maravilhoso!
Meu pequeno grande guerreiro!!!