segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

Meu pequeno herói

Deixar o Enzo na escola teve um significado imenso para mim.
Estava pensando sobre esse texto há dias, digerindo suas palavras e posso colocar sua máxima em uma palavra: MILAGRE.
Quando soube na ultrassom que o Enzo nasceria com os pés tortos eu fiz um milhão de perguntas, sendo mãe de menino a primeira foi “ele irá jogar bola?” e como professora meu segundo questionamento veio cheio de angústia e lágrimas “e a escola??? Senhor!!! A escola!!!” .
Trabalho com alunos do Ensino Médio, mas vejo sempre crianças pequenas no prédio da escola, eles correm o tempo inteiro, correm na quadra e sei que correm durante a aula também... com o diagnóstico em mãos eu busquei imagens de como era um bebê com pé torto congênito e eu só podia chorar, chorar e chorar.
Sem tratamento ele nunca andaria.

Foram seis gessos até a virilha.
Todos retirados em casa.
Na primeira vez demoramos cerca de 1 hora para retirar cada gesso, somando 2 horas com o bebê mergulhado na água cheia de vinagre (o médico disse que vinagre ajudava a amolecer) rsrsrs...
Hoje, até rimos da situação.
Mas não foi nada fácil.
Depois dos gessos veio a órtese.
Primeiro 3 meses de uso 23 horas diárias, depois 14 horas de uso diário.
Usamos as 14 horas até hoje e ele usará, por segurança, até uns 6 anos de idade.
A adaptação à órtese não foi nada fácil, foram dias chorando e dormindo só no braço.
Mas, passou!!!!
Ainda hoje ele as vezes reclama de usar a órtese.
Outra noite fui colocar e ele começou a chorar... olhava pra órtese e depois pra mim.
Gritava “você está prendendo meu pé!!! Você está prendendo meu pé!!!”
Aquilo me quebrou por dentro.
Mas, como digo para todo mundo, órtese não é escolha, não tem que ter pena, é um tratamento e seguimos diariamente à risca.
Por fim, chegou o dia em que ele andou, chutou bola, superou todas as expectativas e... foi para escola.
Entreguei para a professora um menininho como todos os outros.
Que corre sem parar, que brinca de bola, que não para por um só minuto.
Certa vez ouvi de uma mãe a pergunta “existe vida após a órtese?”
Respondo que “existe sim, a mais bela e colorida!”.
Obrigada a cada um que orou por nós...
O tratamento continua...
*Enzo não é, nem nunca será igual às outras crianças.
Ele dorme todas as noites com os pés presos, ele não é um bobão, pelo contrário, é consciente de tudo que vive... isso faz dele único e forte!
Sábado ele subiu sozinho as escadas da igreja, já no topo virou e disse “Sou muito forte, né mamãe!!!”
Na hora sorri e respondi “você é forte sim, muito mais do que imagina!”

*Na verdade, somos todos diferentes... só mudamos o tipo de limitação que possuímos...